TIPOS DE CULTO
(por Alberto Simonton)
Como foi
observado no capitulo anterior, a vida como um todo, em cada procedimento, deve
ser vivida como um culto ao Senhor Jesus Cristo. Assim, não podemos estar
consagrados, respeitosos e reverentes a Deus no templo, e viver de qualquer
modo fora do momento de culto no templo. Nós somos o templo (1Co 6:19), nós
somos um constante culto.
Ainda
assim, é necessário lembrar que a Bíblia não somente fala de culto no templo.
Este é somente o culto mais referido por nós costumeiramente. Existem outros
tipos de culto (ou adoração) que podemos e deveremos tratar neste estudo. Os
tipos de culto que os reformados[1]
admitem existir são: O culto individual,
o culto doméstico e o culto público. Ou, como diz
Jerry
Marcellino, a “tríplice adoração a Deus: adoração particular, familiar e
pública.”[2]
Como
já afirmamos anteriormente, a vida completa do indivíduo deve ser um culto a
Deus, uma constante adoração ao Senhor. Todavia, isto não exclui a
possibilidade de podermos realizar momentos de adoração mais ritual, específica
e devocional. É aí que encontramos os três tipos de culto referidos acima. A vida
oferecida como um culto a Deus não elimina o ato de culto em si mesmo; antes, o
ato de culto completa a vida de culto. Um não contradiz o outro, mas são
facetas da total vida de adorador. É bem verdade que entre a vida como
comportamento (qualquer ato que façamos), e o culto como um momento específico
da vida (momento mais ritual ou devocional), nós encontramos algumas
diferenças. Nestes momentos mais rituais (culto), nós temos uma ênfase em dois
aspectos: edificação e exaltação. Enquanto que, no restante de
nossa vida, encontramos a prática da nossa fé (que também exalta a Deus é
claro!).
Vejamos um
exemplo prático para esclarecimento: num culto familiar eu posso cantar junto
com meus parentes, mas seria impensável que no meio do culto familiar eu dissesse:
“agora chegou a hora de glorificar a Deus limpando a casa”... E em seguida
voltasse para continuar o culto familiar”. Ora, como bem sabemos, a partir do
momento em que vamos varrer, houve uma
quebra do momento específico do culto familiar. Por que? Porque apesar
de varrer uma casa seja para glória de Deus
fazendo parte de minha vida de adoração ao Senhor (1Co 10:31; Cl 3:17),
não constitui parte do culto familiar. E qual a diferença? A diferença é que no culto familiar nós estamos sendo edificados e
exaltamos a Deus. Em outros momentos da vida, seja o que for que nós fizermos,
estaremos exaltando a Deus, por estarmos consagrados a Ele.
Além
disto, nos três tipos de culto referidos acima (individual, familiar e público)
temos certa “liturgia a seguir”, certo “conteúdo específico de culto”. Veremos
mais adiante em nosso estudo que existem certos elementos de culto definidos
pelo próprio Deus, os quais se tornam meios de graça para nossa edificação.
Enquanto que no restante de nossa vida nós estamos adorando a Deus de modo
totalmente livre e informal[3];
adorando-O com quaisquer atos praticados por nós a quaisquer tempo e lugar.
Bem, tendo
esclarecido estas pequenas diferenças, podemos agora passar adiante observando
que esta distinção de tipos de culto é ao mesmo tempo antiga e comumente aceita
pelos reformados. Elas podem ser claramente vistas, por exemplo, na conhecida
Confissão reformada produzida entre 1643 e 1649 - A Confissão de Fé de
Westminster. Em seu Capitulo XXI, Seção VI - DO CULTO RELIGIOSO E DO DOMINGO
esta Confissão afirma:
Agora, sob
o Evangelho, nem a oração, nem qualquer outro ato do culto religioso é restrito
a um certo lugar, nem se torna mais aceitável por causa do lugar em que se
ofereça ou para o qual se dirija (Jo 4:21); mas Deus deve ser adorado em todo o
lugar (Ml 1:11; 1Tm 2:8), em espírito e verdade (Jo 4:23,24), tanto em família
(Jr 10:25; Dt 6:6,7; Jó 1:5; 2Sm 6:18,20; 1Pe 3:7; At 10:2), diariamente (Mt
6:11), e em secreto, estando cada um sozinho (Mt 6:6; Ef 6:18), como também,
mais solenemente, em assembleias públicas, que não devem ser descuidadas, nem
voluntariamente negligenciadas ou desprezadas, sempre que Deus, pela sua
providência, proporciona ocasião (Is 56:6,7; Hb 10:25; Pv 1:20,21,24; Pv 8:34;
At 13:42; Lc 4:16: At 2:42).[4]
Seguindo os mesmos passos de distinção cúltica, a Igreja Presbiteriana
do Brasil, que é uma igreja reformada, no Manual utilizado por ela (Manual Presbiteriano), em seus PRINCÍPIOS DE
LITURGIA tem as seguintes declarações:
·
CAPÍTULO III,
CULTO PÚBLICO: Art. 7 - O culto público é um ato religioso, através do qual
o povo de Deus adora o Senhor, entrando em comunhão com Ele, fazendo-lhe
confissão de pecados e buscando, pela mediação de Jesus Cristo, o perdão, a
santificação da vida e o crescimento espiritual. É ocasião oportuna para
proclamação da mensagem redentora do Evangelho de Cristo e para doutrinação e
congraçamento dos crentes.
·
CAPÍTULO IV, CULTO INDIVIDUAL E DOMÉSTICO: Art.
9 - No culto individual o crente entra em íntima comunhão pessoal com
Deus; Art. 10 - Culto doméstico é o ato pelo qual os membros de uma
família crente se reúnem diariamente, em hora apropriada, para leitura da
Palavra de Deus, meditação, oração e cânticos de louvor. [5]
Evidentemente
você pode dizer que já ouviu falar de mais “tipos de culto” em sua jornada
cristã, como por exemplo: culto de evangelização, culto de oração, culto de
doutrina, culto de ação de graças, culto de formatura... etc. Na verdade estas
nomenclaturas são apenas distinções humanas referindo-se aparentemente à razão
daquele culto, ou ao propósito dele. No entanto, biblicamente falando, qualquer culto é de adoração a Deus Pai,
por meio do Deus Filho, no poder do Deus Espírito Santo. Seja ele Individual,
Doméstico ou Público. Se você reparar nestes exemplos dados a acima,
perceberá que todos são cultos públicos, simplesmente, com “nomes diferentes”.
Mas o tipo de culto é o mesmo. Quanto pudermos, é bom evitar a criação e a
permanência destes títulos de culto que não encontram fundamento na Escritura,
a fim de que o crente possa entender melhor que só existe culto para adorar a
Deus.
Enfim,
continuaremos nosso estudo falando de cada um destes três tipos de culto (ou
tipos de adoração). E após ter esclarecido suas diferenças e importância,
focaremos nosso trabalho no tratamento do Culto Público, que é o propósito
principal desta obra.
Culto
Individual
O culto individual é o exercício devocional que o indivíduo faz em dado momento de sua
vida particular. É um culto ao Senhor realizado pelo crente de maneira reservada. Como já
dissemos anteriormente, não é qualquer coisa que ele faça, pois sabemos que a
vida como um todo é um culto a Deus. Mas o culto individual é um “momento a Sós
com Deus” onde o indivíduo busca a presença do Senhor para uma comunhão maior.
A diferença entre este culto e os demais é a ênfase na privacidade do
indivíduo. Ele adora a Deus sozinho; e sozinho ouve a voz de Seu mestre (Mt
6:6; 4:2; 14:23; 26:36-39; Ef 6:18; Dn 6:10; At 16:25; 8:27, 28; 9:11).
Este
tipo de culto é o mais simples de realizar, visto que não dependemos de outras
pessoas, e poderemos realizar no momento e local de nossa preferência.
Igualmente poderemos seguir uma “liturgia mais livre” onde eu sou o próprio
dirigente e faço-o da forma como quero. Por exemplo, se quiser demorar duas
horas orando, eu posso. Todavia, não poderia ter esta liberdade nos outros
tipos de culto. Ou se quiser, poderei ler toda uma pequena carta de Paulo.
Talvez não consiga isto nos demais tipos de culto.
Todavia,
apesar de simples e solitário, o culto individual é tão importante para o
cristão que chega até mesmo ser considerado como o mais importante de todos dos
três tipos de culto. Nas palavras de Jerry Marcellino: “Somente a adoração particular
a Deus, que é o ponto inicial e o fundamento de tudo o que fazemos como
crentes, nos prepara para influenciar nossa família.”[6] Assim, para um bom culto doméstico é preciso
uma boa vida de culto individual que me prepara para tal.
Da
mesma forma, para um bom andamento do culto público, é necessário que haja
práticas devocionais anteriores que firmem meus passos, a fim de não fazer do
culto público um simples ajuntamento solene hipócrita. Tanto é assim, que Deus
ordena e incentiva os dois para o cristão:
A
adoração é uma atividade privada e corporativa.
As duas coisas não são mutuamente exclusivas, mas recebem ênfase semelhante nas
Escrituras (Mt 6.6 e Hb 10.25). A salvação é individual, mas não nos confina ao
individualismo nem ao isolamento. Como disse Matthew Henry: "A adoração
pública não nos dispensa da adoração privada." O culto público é apenas
uma porção da nossa vida de adoração.[7]
Resumindo,
o culto individual traz benefícios que não podem ser ignorados. O culto
individual é um momento de devoção e edificação para o servo de Deus. Desprezá-lo, é negligenciar oportunidade de
investir mais em uma vida cristã próspera e saudável.
Culto
Doméstico
Creio que
é desejo de todo verdadeiro cristão ver a Igreja de Jesus crescer e ser forte.
Porém, uma coisa é desejar que isto seja realidade, outra bem diferente é ser
parte neste processo contra Satanás e o mundo. Muitos estão dispostos a aprovar
a ideia de uma igreja forte, mas grande parte despreza os meios que podem ser
utilizados para que tal ocorra.
Como
vimos anteriormente, a realização de um momento devocional com Deus num culto
particular (individual) é de grande importância para a saúde do crente.
Contudo, não possuímos somente este recurso para o crescimento espiritual em
nossa vida. Além de um momento a sós com Deus nós podemos ter um culto ao
Senhor com nossa família. Ou seja, um culto doméstico, onde os membros da
família são os adoradores.
A
teologia reformada sempre foi favorável à existência do culto doméstico nas
famílias cristãs com fins de crescimento espiritual. Ora, vemos a posição
reformada quanto ao culto doméstico claramente na Confissão de Fé de
Westminster em seu Capítulo XXI - DO CULTO RELIGIOSO E DO DOMINGO, seção VI,
onde fala sobre o culto entre os familiares (Jr 10:25; Dt 6:6,7; Jó 1:5;
2Sm 6:18,20; 1Pe 3:7; At 10:2). Porém, observando acuradamente, a prática de
muitas igrejas não condiz com esta declaração. “Toda igreja deseja ter crescimento.
No entanto, é surpreendente como poucas delas buscam promover isso por meio de
uma ênfase na necessidade de se criar os filhos na verdade da aliança.”[8]
O culto particular pode até ser que exista na vida do marido e/ou da esposa,
mas em muitos lares o culto doméstico não é realizado. “Em muitas igrejas e
lares, ele é algo opcional ou, no máximo, uma prática superficial, como uma
breve oração de agradecimento antes das refeições. Consequentemente, muitas
crianças crescem sem nenhuma experiência ou impressão da fé cristã e da
adoração como uma realidade diária.”[9]
Assim, certamente que a prática das igrejas não está condizendo com a teologia
adotada.
Ora, falamos da importância do
culto doméstico (culto familiar). Mas precisamos entrar em pormenores e
esclarecer o que é o culto doméstico e no que ele consiste. O culto familiar
ou doméstico, é o exercício de devocional de culto realizado por membros de uma
família em conjunto, em um determinado momento do dia. Ele “consiste
de oração, leitura da Escritura e o cântico de louvores”.[10]
Evidentemente
que, num mundo ativista como hoje, falar de um período de tempo para juntar os
familiares e realizar um culto doméstico soa como uma “missão impossível”. Mas
devemos batalhar para a sua realização devido à importância que este culto tem
para a saúde familiar. Ora, os chefes de família são os responsáveis pelo
crescimento espiritual das suas famílias (Ef 5:25-27; 6:1-4). Assim, coube a
“Deus exigir que os chefes de família façam tudo quanto puderem para guiar suas
famílias na adoração ao Deus vivo. Josué 24.14-15.”[11]
Um destes meios pode ser o culto doméstico. No dizer de Douglas Kelly: “O chefe
de cada família deve representá-la no culto de adoração a Deus; e também que, o
ambiente espiritual e o bem-estar pessoal daquela família, a longo prazo, será
afetado grandemente pela fidelidade — ou fracasso — do cabeça da família nessa
questão.”[12]
Mesmo que o Pai seja fiel ao Senhor particularmente, deve lutar para que sua
família assim o seja de igual forma. Realizar o culto doméstico é um modo de
lutar pela saúde espiritual de sua esposa e filhos. É lutar pelo seu lar:
O
culto doméstico é o fator que determina como as coisas andam no lar. É claro
que o culto doméstico não é o único fator determinante para isso. Ele não
substitui outras obrigações paternas. O culto doméstico sem o bom exemplo dos pais
é fútil. O ensino espontâneo que surge ao longo de um dia comum é crucial.
Todavia, separar momentos para o culto doméstico também é importante.[13]
Pensemos da seguinte forma: Se nosso momento a sós com Deus em nosso
culto individual é prazeroso, edificante e fortificante à alma, porque não
levar isto aos nossos familiares? Devemos nos lembrar que nossos filhos ainda
estão sob nossa direção e responsabilidade. Eles não estão “por si mesmos”, mas
vive sob nossa proteção paternal. Assim, tudo que fizermos para ajudá-los no
crescimento espiritual é bem-vindo. O culto doméstico se propõe a realizar
parte desta tarefa de educar a vida espiritual dos filhos:
Proporciona
um maior conhecimento das Escrituras e crescimento na piedade individual, tanto
a vocês quanto a seus filhos. Ele fomenta a sabedoria de como enfrentar a vida,
a abertura para falar de questões relevantes e o relacionamento mais estreito
entre pais e filhos. Os fortes laços estabelecidos no culto doméstico em seus
anos iniciais podem ser de grande ajuda para os adolescentes nos anos por vir.
Esses adolescentes podem ser poupados de muitos pecados ao se recordarem das
orações em família. [14]
Apesar de
parecer claro e convincente, a realidade nos mostra que muitas famílias cristãs
não aderem ainda à prática do culto doméstico. Muitas razões poderiam ser
apresentadas aqui. Como bem sabemos, se alguém não quer algo, muitas “supostas justificativas”
podem ser apresentadas. Deste modo, não podemos num só trabalho apresentar todas
elas. Porém, isto não impede de podermos apresentar algumas objeções que são
bem comuns. Observemos abaixo algumas objeções e as respectivas respostas a
elas apresentadas pelo escritor Joel Beeke:
1º
objeção: Não há uma hora exata em
que todos nós podemos estar juntos.
Se
vocês têm horários conflitantes, principalmente quando os filhos mais velhos
estão na faculdade, você deve fazer o melhor que puder. Não cancele o culto
doméstico se algum dos filhos não estiver em casa. Realize o culto doméstico
quando a maioria dos membros da família estiver presente. Caso surjam conflitos
de horários, mude ou cancele a atividade que estiver ameaçando o culto
doméstico, se possível. O culto doméstico deve ser um acontecimento
inegociável. Os negócios, passatempos, esportes e atividades escolares são
secundários se comparados a ele.[15]
2º objeção: Nossa família é muito diversificada para que todos sejam beneficiados com isso.
Tenha
um plano que abranja todas as idades. Leia um trecho de um livro de histórias
bíblicas para os pequeninos por alguns minutos. Faça a aplicação de um
provérbio para as crianças mais velhas e leia uma ou duas páginas de um livro
para adolescentes. Um plano sábio pode superar qualquer diversidade de idade.
Além disso, essa variedade de idades dos filhos afeta diretamente apenas um
terço do culto doméstico, mas não afeta o momento de orações e de cânticos.
Todas as faixas etárias podem cantar e orar juntas. Lembre-se também de que, a
instrução bíblica não se aplica de forma direta a todos os presentes. À medida
que você ensina os adolescentes, as crianças estão aprendendo a ficar sentadas.
Entretanto, não mantenha a discussão por um período prolongado ou todos
acabarão perdendo o interesse. Se os adolescentes quiserem continuar a
discussão, retome o assunto depois de encerrar o culto com uma oração e
dispensar os mais novos. Semelhantemente, enquanto você estiver ensinando os
filhos mais novos, os adolescentes estarão prestando atenção. Eles também
estarão aprendendo, pelo seu exemplo, como ensinar as crianças menores. Quando
se casarem e tiverem filhos, eles se lembrarão de como você conduzia o culto
doméstico.[16]
3º objeção: Nossa família não tem
tempo para isso.
Se
você tiver tempo para lazer e divertimentos, mas não para o culto doméstico,
pense em 2Timóteo 3.4-5, que nos adverte sobre pessoas que amam mais os
prazeres do que a Deus, os quais têm forma de piedade, mas negam o poder que
ela tem. Separar um tempo das atividades familiares e dos negócios para buscar
a bênção de Deus nunca é perder tempo.[17]
4º objeção: Nossa família é muito pequena.
Richard Baxter afirmou que, para formar uma família,
você só precisa de alguém que governe e de alguém para ser governado. Você só
precisa de duas pessoas para o culto doméstico.[18]
Ainda que
possamos convencer alguns da importância do culto doméstico, é bem provável que
ainda afirmem: “eu não sei fazê-lo!” Bom, se o convencemos da importância do
culto, como realizá-lo será mais fácil de responder. Será que iremos deixar de
fazer algo benéfico à nossa família por que “não sabemos fazer?!” É óbvio que
não! Nas palavras de Joel Beeke: “Peça
orientação de pastores e pais tementes a Deus. Pergunte se eles poderiam
visitar sua casa e mostrar-lhe como conduzir o culto doméstico ou observar a
forma como você o faz e dar sugestões. Terceiro, apenas comece... Sua
habilidade aumentará com a prática.”[19]
É
bem verdade que muitos cristãos brasileiros não estão bem equipados para fazer
uma explanação de um texto bíblico aos seus familiares. Todavia, isto não é
motivo para desânimo ou desistência em realizar o culto doméstico. Se o chefe
de família não tem esta habilidade, nada impede de buscar outras fontes que o
ajudem neste aspecto.
“Muitos puritanos dentre o povo tomavam notas dos sermões e os pais
frequentemente, de posse das anotações, usavam-nas nas atividades de adoração
junto aos familiares. Se tinham crianças de mais ou menos 10 anos repassavam o
sermão no nível de entendimento desta idade.”[20]
Em resumo,
o culto doméstico é um instrumento que pode fortalecer a família nos caminhos
do Senhor, auxiliando o cabeça da família no cumprimento da ordem do Senhor (Js
24:15 ; Dt 6: 1-9; Ef 6:1-4). E visto que é útil para todos, então que todos
valorizem este culto; mas principalmente os homens, líderes do lar:
Guarde
cuidadosamente esse momento de culto doméstico. Se você souber com antecedência
que o período habitual não será adequado num determinado dia, reprograme o
tempo de culto. Entretanto, não deixe de realizá-lo, pois isso pode se tornar
habitual. Quando puder manter o horário determinado, planeje cuidadosamente e
prepare-se com antecedência, para que cada minuto seja valioso. Enfrente todos
os inimigos do culto doméstico.[21]
Infelizmente
podemos constatar que muitas famílias estão orando por seus filhos, mas não
lhes ensinam a Palavra. É uma atitude estranha, visto que a Bíblia manda por
diversas ocasiões ensinar os filhos a Sua palavra (Ex 12:25-27; Pv 22:6; Ef
6:4; Sl 78:1-5), mas no entanto, não encontramos um só versículo mandando
explicitamente orar por eles. Não que devemos parar de orar por nossos filhos,
mas esta não é a ênfase no ensino da Palavra a nós dirigida. O culto doméstico
se propõe a cumprir o mandamento explícito do Senhor de ensinar a Escrituras a
novas gerações.
Culto
Público
Tendo
falado do culto individual, e do culto doméstico, cabe a nós agora nos voltar
para o culto público. Como poderemos perceber nitidamente, os tipos de culto
vão se diferenciando em número de participantes, e em exigências litúrgicas.
Biblicamente você vai encontrar mais referências aos cultos públicos oferecidos
a Deus do que a respeito dos outros tipos de culto. Porém, mesmo com diversas
referências, não podemos supervalorizar o culto público a ponto de esquecer o
valor da vida de adoração. Como havemos falado anteriormente, tornamos a
repetir, “O culto público é apenas uma porção da nossa vida de adoração.”[22]
Antes de
continuarmos a falar do terceiro tipo de culto, conheçamos alguns conceitos referentes
ao culto público, a fim de compreender melhor este serviço de adoração:
·
Culto é a reunião do Povo de Deus, com o Seu
Deus, onde: o povo se apresenta diante do seu Criador-Redentor e oferece
adoração, e Deus recebe nossa solenidade falando-nos viva e profundamente
através da exposição fiel de sua Palavra. Dr. Valdeci dos Santos afirma que
“... o culto cristão é a dedicação de nós mesmos a Deus com aceitação de sua
paternidade, soberania e misericórdia, e exultante reconhecimento de sua
glória, majestade e graça. O culto cristão é prestado espiritualmente, com o
auxílio do Espírito Santo; tem Jesus Cristo como único mediador, e baseia-se no
conhecimento verdadeiro de Deus”.[23]
·
O culto público é o meio pelo qual a igreja manifesta de forma mais
notável o conteúdo da sua fé. É também o momento em que, reunida, oferece a
Deus uma resposta àquilo que sabe que ele é e tem feito. Isso tudo faz do culto
uma das facetas mais importantes do viver cristão.[24]
·
O culto cristão pode ser definido como a
atitude interior de adoração a Deus, bem como a expressão exterior da mesma em
palavras e atos individuais e comunitários. Portanto, o culto tem duas
dimensões: uma interior e outra exterior; além disso, pode ser individual e
corporativo (culto público).[25]
·
O termo
“culto” denota basicamente dois possíveis significados inter-relacionados: 1)
Adoração ou homenagem a uma divindade. 2) Ritual ou liturgia; ou seja, o modo
de exteriorizar esta adoração. A
primeira significação refere-se à natureza do culto propriamente dito, enquanto
a segunda traduz a formalização.[26]
Tendo
visto tais conceituações, podemos agora partir para nossa conceituação: culto
público é o exercício devocional de culto prestado a Deus pelo povo de Deus em
assembleia. Deve-se chamar atenção nesta conceituação para o fato de
que muitos cristãos pensam que vão para a igreja assistir o culto. “Não vamos à
Igreja para "assistir" o culto, quem assiste o culto é Deus, nós
vamos prestar (ou dar) culto, vamos para adorar a Deus.” [27]
Ora, se no
culto individual o crente adora, no culto doméstico a família adora, como
poderia no culto público os crentes somente assistirem o culto? Nele,
igualmente, o povo adora. O povo é participativo no culto. Lembremos da
conceituação de culto exposta anteriormente por nós: Culto
é um serviço de adoração prestado a Deus de modo a reverenciá-lO e
homenageá-lO. Se culto é um serviço, já não é “assistir”, mas “agir,
servir”. O que encontramos de maior diferença em relação aos cultos individual
e doméstico, é que existem mais preceituações a seu respeito.
Culto
Público Infantil
Em
nossa cultura brasileira tornou-se costume muitas igrejas organizarem um “culto
paralelo” onde as crianças participam em local diferente dos adultos.
Geralmente este momento ocorre na hora da pregação. Ou seja, as crianças
participam da liturgia com todos os membros, mas na hora da pregação são
retiradas a um local à parte a fim de serem instruídas conforme suas idades.
Entretanto devemos nos perguntar: Será
que esta reunião, às vezes denominada de “culto infantil” tem o apoio das
Escrituras? Deus ordena isto em Sua Palavra?
Como
vimos acima, o culto público deve ser oferecido pelo povo de Deus. E quem é o
povo de Deus? Todos aqueles que aceitaram Jesus pela fé se tornaram povo de
Deus (1Pe 2:7, 10). Em contrapartida, todos os filhos dos crentes são também
parte do povo da aliança (1Co 7:14; Gn 17:10-13). Então, “como regra, os filhos
da aliança devem estar presentes com a congregação no culto. Eles fazem parte
do corpo unido e por isso devem fazer parte do culto unido. Isso faz parte da
essência de quem eles são como filhos do pacto”.[28]
E apesar do não conhecimento de muitos, existe textos nas Escrituras que
comprovam a participação dos menores no culto público a Deus (2Crônicas 20:13;
Josué 8:35; Joel 2:15). Deste modo, “obviamente, crianças pequenas devem fazer
parte do culto. Elas estão prontas para participar junto com a congregação tão
logo os pais assumam a responsabilidade de ensinar, treinar e disciplinar seus
filhos para o culto.”[29]
O chamado culto infantil não tem base bíblica,
pelo contrário, contradiz com os textos que ensinam a presença dos infantes no
culto público. Além do mais, as justificativas apresentadas para se realizar o
tal culto infantil estão fundamentadas em argumentos fracos e não bíblicos, os
quais não abordaremos nesta obra.
O fato é
que os pais devem manter seus filhos no culto público com os adultos e não
aderir a esta metodologia cúltica para crianças. Além do mais, não devem
esquecer-se de que não basta trazer os filhos para o culto público, mas deve
ensiná-los a participar dele. A participação das crianças no culto não é
simplesmente uma obediência legalista, mais um meio de elas participarem da
adoração e aprenderem a ser adoradoras:
Quando
crianças são trazidas ao culto é essencial que os pais estejam conscientes do
fato de que não basta que simplesmente elas estejam presente, mas também que
elas devem ser treinadas no modo apropriado de cultuar. As crianças devem ser
ensinadas a sentar e permanecer quietas em respeito a seus pais e aos outros, e
devem também aprender que a razão disso é a honra e a adoração a Deus. Os pais,
da mesma forma, têm uma obrigação para com os outros adoradores e para com o
próprio Deus em não permitir que seus filhos se distraiam no culto. É
responsabilidade dos pais ensinar, disciplinar e manter controle de seus filhos
no culto. O objetivo é treinar as crianças a exercer autocontrole e aprender
como adorar. Os pais devem estabelecer de forma clara as regras de
comportamento para suas crianças, assim como ajudá-las a entender a razão por
que elas estão no culto.[30]
Evidentemente
que nem sempre isto é fácil de ser realizado. Há crianças que são muito
pequenas e dão algum trabalho extra para os pais. Contudo, isto não é
justificativa para desistência em trazer crianças ao culto público. O escritor
Robert Booth, ao falar sobre a participação de crianças no culto público, faz o
seguinte comentário:
Pais
com crianças muito pequenas, ou aqueles com filhos no processo de serem
treinadas, deveriam sentar próximo à porta e estar preparadas para discretamente
sair do santuário, se seus filhos começarem a chorar, ou, do contrário,
distrairão os outros. Um choramingo ou acalento ocasional é normal e geralmente
não requer muito mais que pegar a criança e embalá-la ou dar-lhe palmadinhas
nas costas. Contudo, se isso não for o suficiente para sossegar a criança, os
pais devem, por cortesia e respeito pelos outros e pelo culto, retirar seu
filho da assembleia até que ele tenha sido acalmado. Crianças que estão
começando a andar são um desafio diferente para os pais. A esta altura elas
deveriam estar treinadas a entender o que a palavra “não” significa e deve-se
esperar que permaneçam sentadas durante o culto tranquilamente. Se fracassarem
em fazer assim, então elas devem ser tratadas como em qualquer outra desobediência
obstinada (i.e., pecado) e a disciplina apropriada deve ser aplicada. Todos nós
entendemos que elas são “crianças pequenas”, mas lembre-se, nossa
responsabilidade como pais é trazê-las à maturidade ensinando-as o que devemos
e insistindo que elas obedeçam. Se uma criança está geniosa porque esteve
doente, ou está nascendo dente, ou tem alguma outra razão legítima para não se
sentir bem, então, talvez, não seja adequado que ela esteja presente com a
congregação nesse dia. Entretanto, mesmo cansada ou doente as crianças não
devem ser permitidas que pequem. [31]
E mesmo
nos casos de crianças muito pequenas, ou casos excepcionais, o culto ainda pode
ser o lugar adequado para elas tomando-se, é claro, algumas providências. É o
que nos orienta o escritor Randy Booth:
Membros
amigos na igreja ou parentes podem ser chamados para auxiliar nessa tarefa de
ajudar com as crianças durante o culto, especialmente quando há muitas crianças
para cuidar.[...] Os diáconos devem assegurar que os assentos próximos à porta
do santuário permaneçam disponíveis
para pais com crianças pequenas a fim de facilitar melhor uma saída
necessária.[...] Os diáconos, onde for possível, poderiam providenciar uma “sala do choro” para mães e seus filhos.
Essa sala poderia ser equipada com som, vídeo ou um vidro com película
espelhada de modo que as mães possam ainda receber alguma porção do culto, se
elas precisarem sair temporariamente.[...] Uma lista de voluntários para trabalhar no berçário deveria ser mantida em
caso de necessidades especiais,
especialmente para visitantes cujas crianças possam não ficar sob controle ou
não estar preparadas para permanecer sentadas durante o culto.[32]
[1]
Reformados é uma designação àqueles que
concordam com as doutrinas do reformador João Calvino.
[2]
MARCELLINO, Jerry. Redescobrindo o
Tesouro Perdido do Culto Familiar. 1ª ed. São José dos Campos: Editora
FIEL, 2004. p. 12.
[3]
Com a expressão livre e informal não estamos querendo dizer sem parâmetros,
pois a Palavra de Deus sempre nos será o parâmetro para todos os atos na vida.
O que queremos dizer é que no cotidiano não utilizamos de nenhuma liturgia, ou
ritual, ou elementos de culto, para realizarmos nossos atos de adoração.
[4]
A Confissão de Fé de Westminster. São
Paulo: Cultura Cristã, 1999. p. 115.
[5]
Manual Presbiteriano – com notas
remissivas. São Paulo: Cultura Cristã, 2013. p. 124, 125.
[6]
MARCELLINO, Jerry. Redescobrindo o
Tesouro Perdido do Culto Familiar., 2004, p. 12.
[7]
SANTOS, Valdeci dos. Refletindo sobre a Adoração e o Culto
Cristão., 2014.
[8]
BEEKE, Joel. Adoração do Lar. 1ª ed.
São José dos Campos: Editora FIEL, 2012. p. 9.
[9]
Ibid., p. 10.
[10]
BEEKE, Joel. O Culto Doméstico. Disponível em:<http://musicaeadoracao.com.br/19915/o-culto-domestico/>. Acesso em: 16 maio 2013.
[11] BEEKE, Joel. op.cit., p. 19.
[12]
Ibid., p. 23.
[13]
BEEKE, Joel. Adoração do Lar., 2012,
p. 11, 12.
[15]
BEEKE, Joel. Adoração do Lar., 2012.
p. 57.
[16]
BEEKE, Joel. Adoração do Lar., 2012,
p. 58.
[17] Ibid., p. 55, 56.
[18] Ibid., p. 57.
[19] Ibid., p. 60.
[20]
BEEKE, Joel. Os Puritanos e a adoração.
Disponível em: <http://ospuritanos.blogspot.com.br/search/label/Os%20Puritanos%20e%20a%20Adora%C3%A7%C3%A3o>. Acessado em: 25 jun.
2013.
[21]
BEEKE, Joel. Adoração do Lar., 2012,
p. 36.
[22]
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Cristão., 2008.
[23] MACEDO, Jônatas Abdias de. Liturgia Hoje – Entre a Liturgia Moderna e
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[24]
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2013.
[25]
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[26]
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[27]
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[28]
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[29] Ibid., p. 6.
[30] Ibid., p. 5.
[32]
Ibid., p. 6.
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